Na semana em que o mundo comentava sobre a sandice (ou burrice) do menino que morreu ao entrar na jaula de um leão no zoológico, fui à casa do meu irmão. Enquanto eu endossava a maioria, João Paulo ponderou “quantas vezes você já teve uma ideia idiota que podia ter acabado muito mal?”.
Não é que eu tenha passado a defender o menino, mas minhas tendências julgadoras ficaram muito mais amenas desde aquela noite. Não é também que a história a seguir seja a pior ideia que eu já tive na vida – inclusive porque ela não colocou a vida de ninguém em risco (ao contrário de ter dirigido depois de beber, por exemplo).
No entanto, toda vez que eu penso nas minhas ideias de jerico, eu lembro desse feriado na praia com a Amiga 1 e a Amiga 2. Na estrada, com a mãe da Amiga 1 (e dona da casa), costumávamos ouvir estilos variados de música: a obra-prima da Lauryn Hill, uma coletânea ótima de Simon & Garfunkel e muitos clássicos da MPB. Na época, isso incluía especialmente a Elis Regina, e naquele 7 de setembro de 2001, chegamos na praia com a Pimentinha na cabeça.
No caso da Amiga 1, isso logo mudou, pois ela encontrou seu ficante praiano e combinaram de se encontrar no dia seguinte. Eu e Amiga 2 concordamos em ir junto à casa do camaradinha para garantir a segurança da amiga e, quem sabe, descolar algum amigo dando sopa (coisa que não aconteceu, já adianto).
Pouco antes de saírmos, lembrei de uma questão importante: como a gente vai te avisar na hora que quisermos ir embora sem ficar parecendo estraga-prazer na frente dos caras? Bem lembrado, ponto pra Silvinha, precisamos de um código. Que código? Já sei!  embora, vamos cantar “Madalena”, da Elis Regina. Nenhuma das duas fez qualquer objeção, de modo que seguimos tranquilas até encontrar 4 moleques com seus 17 anos na varanda na frente da casa.
Depois de algumas horas tentando fingir interesse no jogo de baralho deles (eu não jogo baralho) e de tentar puxar qualquer tipo de assunto – arrisco dizer que em certos momentos o único barulho que ouvíamos vinham da natureza -, eu e Amiga 2 concordamos, pelo olhar, que era hora de ir embora. Assim, sem ensaio ou aquecimento, começamos a cantoria e fomos aumentando o tom da voz gradualmente.
 
Ô Madalena, o meu peito percebeu
Que o mar é uma gota comparado ao pranto me e e e e e eu
A voz afinada e doce da amiga 2 não foi suficiente para minimizar a estranheza do momento, e eu, mesmo taquara, segui com o plano. O único objetivo era dar o fora dali o mais rápido possível.
Antes mesmo de chegar à parte do Má, ô Madá, nós já tínhamos percebido que a ideia era completamente estapafúrdia – e não apenas porque fizemos papel da maluca na frente de desconhecidos, mas principalmente porque a Amiga 1 seguia apinchada na rede, a alguns metros da mesa do baralho, e porque algum CD de hardcore competia com nossos gogós.
Paramos de cantar com a mesma naturalidade que começamos, e os anfitriões tampouco questionaram o que acabara de acontecer. E foi assim que eu me levantei, plácida e serena, para chamar a Amiga 1 sem qualquer transtorno. E todas as vezes que eu penso em julgar a ideia estúpida de alguém, eu lembro da minha.

Uma singela homenagem aos 60 anos da Diva

É bem verdade que as crianças dos anos 80 cresceram com algum disco da Xuxa tocando em loop, mas foi Madonna quem fez parte de uma das minhas primeiras memórias musicais da vida.

Em 1989, estava em Maceió com a minha família e, embora a água saísse marrom das torneiras do banheiro e a praia em frente ao hotel estivesse imprópria para banho, tudo parecia correr bem. À noite, os hóspedes se revezavam entre o restaurante, a sala de jogos, de filme e outras salas que não fazem qualquer sentido.

Numa dessas noites, organizaram uma festa para as crianças DENTRO DA BOATE. Em vez de correrem, se baterem e atazanarem os pais, elas migraram para um ambiente escuro e barulhento.

No melhor estilo “não sei como Deus me colocou aqui”, me vi, aos 4 anos, na boate fazendo amizades. De cara limpa, é claro. Rafaela era do Rio de Janeiro (percebi pelo sotaque) e tinha um rabo de cavalo loiro com um laço bem no alto na cabeça.

Ensaiávamos brincar de pega-pega. Porém, Rafaela foi ficando quieta e esquisita. Quando menos percebi, Rafaela tinha vomitado no chão. As crianças corriam e gritavam, as luzes deixavam todo mundo tonto. Eu me espantava com a azeitona verde, inteira, ali no gorfo da Rafaela.

Azeitona é ruim demais! O que será que a Rafaela jantou? Como que ela tá inteira desse jeito? Será que Rafaela tomou um dry martini aqui na boate?

Não demorou para começar a comoção: as crianças agora reparavam estarrecidas no gorfo da Rafaela e os pais da Rafaela finalmente foram localizados. Os meus, não.

Enquanto a arruaça comia solta, fiquei paralisada com o piscar do estrobo, o cheiro azedo e uma música quase fúnebre ao fundo “life is a mystery, everyone must stand alone…”. Pareceu muito tempo, mas meus pais chegaram mais ou menos na parte do coro, uma cena catártica.

Nunca mais vi a Rafaela e sigo sem entender como aquela azeitona inteira foi parar ali. Life is a mystery, aprendi com Madonna.


20out13

Para o mês das crianças, uma história breve e verídica:

Início da década de 90. O Nirvana mudaria a música. A mãe da Aline e da Sabrina mudaria a vida de muitas crianças.

Era uma quarta-feira (ou segunda, ou sexta) ensolarada e durante a aula de tênis do Professor Silvano, os alunos estavam em polvorosa. Eu, não, que nunca fui de me impressionar com pouco.

Motivo: Aline, mais velha, ali com uns 11 anos, chegou com a brincadeira nova. Passou a aula perguntando para o resto dos alunos, mais novos (eu com 8): “setembrochove?”.

Ninguém entendia nada, eu não achava graça e o professor, menos ainda. Entre gargalhadas e bolinhas isoladas pela distração, a aula acabou.

Aline e sua irmã foram em direção à mãe, que assistia à aula sentada sob a sombra de uma árvore e perguntaram:

– “Mãe, setembrochove?”
– “O que?”
– “Se-tem-brochooove?”
Sem perder seu ar plácido, respondeu:

– “Não, eu tenho b*ceta”.

Corta pra 2013.


Há uns anos recebi, sem querer, a newsletter da academia. Se isso já não fosse invasivo o suficiente, perguntavam em tom irônico: “você sabia que o verdadeiro Papai Noel era magro?”. Não, é claro que não sabia. 

Dizem que essa imagem de Papai Noel como conhecemos hoje foi uma invenção da Coca-Cola e até que, originalmente, sua roupa era verde, mas que o Barba era magro, aposto que ninguém desconfiou. Talvez tenha bebido muito refrigerante e eis a silhueta de barril. Quem é que sabe? 

À parte as teorias conspiratórias, a verdade é que criança é mesmo um bicho muito burro. Imaginem que a maioria das pessoas com quem você convive (eu, inclusive) acreditou piamente na existência de um homem vindo lá do Pólo Norte, que passava o ano recolhendo pedidos de presente de todas as crianças do mundo. TODAS. 

É bem verdade que, com tão pouca idade, ninguém possuiu uma ideia muito concreta do número de pessoas do globo. Porém, bancar brinquedo do próprio bolso pra essa gente toda é inverossímil até pra quem tem quatro anos.

As falhas de roteiro não param por aí. Não é que o Papai Noel tem uma parceria com a Mattel ou com a Fischer Price. São DUENDES quem fabricam os brinquedos. Um a um. Se ainda fossem chineses ou criancinhas tailandesas, vá lá.

Outro problema é a onipresença do sujeito. Shopping centers, padarias, escolas de natação, reuniões de condomínio, lojas de rua… O Papai Noel está em todo lugar. Como é que alguém confia e ainda senta no colo daquele subalterno com barba falsa e bafo de cigarro?

Eu mesma não me lembro de ter sentado no colo de nenhum. Não somente porque nunca fui de sentar em colo de estranhos, mas porque tinha certeza absoluta de que o verdadeiro Papai Noel não estava passando calor naquela poltrona de veludo no shopping.

Na minha cabeça, tratava-se de uma espécie de Deus: entidade que adivinhava meus presentes e os trazia no dia do Natal. Também por este motivo, nunca escrevi cartinha para “Ele”. De tão foda, o Papai Noel sabia meus desejos. Ademais, o camaradinha alfabetizado, ali com uns 6 anos de idade, já deveria ter se tocado. 

O tempo vai passando e as pessoas ligam os fatos. Lembro da minha mãe perguntando o que eu ia pedir pro Papai Noel, daquelas sacolas misteriosas no banco de trás do carro, dos meus irmãos que, ao contrário de mim, não ficavam aguardando o Homem ansiosamente. Por fim, a inexorável verdade (spoiler alert): Papai Noel, de tão magro, nunca chegou a existir. 


Os e-mails de corrente que vinham com listas das pequenas coisas que fazem a vida valer a pena sempre mencionavam, além do gostoso cheirinho do café “passado” na hora e da Amélie Poulain enfiando a mão no saco de cereais,  a delícia de se achar dinheiro em bolso de roupas. Não sei se sou muito limpa ou muito pobre, mas isso raramente acontece comigo. Principalmente porque agora ninguém mais tem dinheiro, é o bendito do Redeshop, do Visaelectron. Em vez de moeda de dez centavos, encontro comprovante do cartão.

Começo a juntar os papeizinhos jurando que vou fazer as contas, ser uma pessoa comedida. Devo poupar dinheiro. R$22,56 no Pão de Açúcar, cerveja. R$68,00., brechó. R$119,00, sapato. R$73,00. JF Bar. JF Bar? Rua Augusta? Ah, lembrei. R$7,80. Padaria Iolanda. Onde é Padaria Iolanda? Quem é Iolanda? R$37,61. Pão de Açúcar. Cerveja.

No domingo à noite formo uma bola de bocha feita com os tickets e desisto de fazer as contas. O que os olhos não vêem… Ultimamente, alegando uma irrisória consciência ecológica, tenho rejeitado a segunda via do comprovante, já aviso antes. Eu vou amassar e encontrar uma semana depois, mesmo.

Aquele trocadinho do bolso que ajudava o amigo a inteirar uma gelada no posto de conveniência deu lugar…ao cartão do banco. Camarada tem a cara de pau de passar R$2,80 no cartão e a lojinha paga mais de taxa do que o valor do produto em si. A gente fica mal – acostumado e depois vai até em barraca na praia perguntar se aceitam crédito. O pior é que tem algumas que aceitam. Acho que me viro melhor sem um dos rins do que sem meu Redeshop.

Vira e mexe a rede sai do ar e não posso nem dizer que vou lavar pratos no restaurante porque eles usam uma máquina muito mais eficiente  do que eu. Suo frio até o tal do sistema voltar. O que me faz feliz mesmo é ouvir o apitinho da máquina e a calorosa mensagem: TRANSAÇÃO APROVADA. Ah, as pequenas coisas da vida!


Darwinismo

09dez11

Minha sobrinha de três anos disse que pediria um iPad pro Papai Noel. Para mim, trata-se de uma evolução daquele quadro magnético vermelho que você sacode pra apagar o desenho no final. Pode parecer exagero mas eu, um pouco mais velha, ficava maravilhada era com a sanduicheira elétrica funcionando em cima da pia.

Era o fim do sanduíche gelado com pão de forma grudando no céu da boca e, principalmente do queijo quente queimado de um lado só quando a mãe esquecia o tostex na boca do fogão. Era a modernidade ao meu alcance!

A desejada sanduicheira foi comprada na primeira viagem da família a Disney (outro sonho de classe média concretizado). Numa parada que fizemos em Miami, vimos a loja anunciar o aparelho por míseros 13 dólares. Muito embora ainda contássemos cruzeiros reais, o preço era bastante vantajoso e acabamos comprando sanduicheira de presente pra família inteira. Sorte que não fomos parados na alfândega.

De volta a São Paulo, felicidade era ter autonomia para fazer meu próprio sanduíche sem ter que pedir ajuda para mexer no fogão ou esperar uma eternidade até que o forninho derretesse o queijo prato devidamente. A única coisa a fazer era ligar na tomada e esperar a luz vermelha acender.

Se bem traduzidas pela minha mãe, as instruções eram claras: não untar a sanduicheira com manteiga nem usar água para a limpeza. Raspar o antiaderente com faca de metal, nem pensar! Melhor enxugar louça com o santo sudário do que riscar a sanduicheira. O que a Black & Decker não avisou no manual é que o antiaderente não funcionava.

A cada dupla de sanduíche, uma surpresa. Dar de cara com dois sanduíches inteiros e tostadinhos é como ganhar na loteria: nunca vi acontecer com ninguém. A não ser que você abdique do recheio, o resultado é o mesmo: o queijo vaza, o requeijão escorre pelas laterais, o pão gruda na parte de cima e quando você abre a sanduicheira, tem a certeza de que se trata de um outro prato. Se jogar um fio de azeite e decorar com uma folhinha de manjericão, vira um risoto. Risoto de misto quente.

Certa vez, quando nossos pais viajavam, eu e meu irmão resolvemos incrementar o requintado almoço usando quase meia bisnaga de catupiry em cada fatia de pão. Pareciam sonhos de padaria, mas veio o pesadelo. O catupiry transbordou, o presunto se perdeu e a mussarela grudou de tal forma que não vimos solução se não lavar a geringonça com a parte verde da esponja da pia. Ao contrário do que prevíamos, o resto da família ficou aliviada ao ver a sanduicheira inutilizável.

Desde os remotos anos não tenho contato com tal eletrodoméstico e de lá pra cá os canais de compra da televisão tentam me convencer de que as coisas mudaram e que nada mais gruda no antiaderente. Tanto que lançaram vários outros produtos similares (panelas elétricas, omeleteiras e máquinas de tortinhas) e as pessoas ainda a incluem em listas de casamento.

Meu trauma é tamanho que não estou disposta a tentar novamente. Inclusive acho que as apresentadoras contrariam as instruções e usam óleo para não dar vexame em público, mas também não descarto a possibilidade de que – tal como o quadro vermelho – as sanduicheiras tenham evoluído.

 

Gostaria de creditar o termo “risoto de misto quente” à minha amiga Manu.


Outro dia estava lendo o rótulo do hidratante pro cabelo, disposta a seguir as instruções de uso. Depois do shampoo e do condicionador, aplique nos cabelos ainda úmidos, garantindo que todos os fios estejam cobertos. Fiquei lá espalhando o creme com afinco e parei para me perguntar como iria prover a garantia de que todos os fios estavam cobertos. O máximo que eu poderia dizer é que me esforcei bastante. Garantia só vem de fábrica com eletroeletrônico, se tanto.

Imagino que a grande maioria das pessoas pensa em casar. Inclusive aquele tipo de homem chato que faz piada comparando aliança com algema no almoço da firma e aquele tipo de mulher que acha que emancipação feminina e casamento se anulam. Eu penso também. Não com a mesma freqüência das contemporâneas da minha avó, bordando o enxoval aos quinze anos, mas penso.

Acho que isso é sinal de nada, só de que a vida é mais legal quando é dividida. O meu problema nem é só a falta do candidato. Essas coisas acontecem quando a gente menos espera (dizem).  O problema é com os votos que se faz no altar, ali na frente do padre ou do juiz e de mais dezenas de conhecidos.

Eu juro que quando eu for casar com alguém eu não vou reclamar da toalha molhada em cima da cama. Juro que vou tentar não dormir com dois mil cobertores ou reclamar do barulho do ronco. Juro que não vou ligar se ele ganhar menos, vou amá-lo na saúde e na doença – torcendo pra que ele tenha saúde de um touro como eu. Posso jurar que além da alegria, vou amá-lo na tristeza também (mesmo que a tristeza seja, sei lá, por causa do campeonato brasileiro).

Antes das competições de handball e queimada no colégio, a gente jurava – pela honra do desporto –  ser fiel, honesto e competitivo. E já aviso que eu compito. Pela fatia do bolo com o morango em cima, pela autoria da piada, pela descoberta daquela música de que todo mundo gostou. Juro que sou fiel até o último fio de cabelo. Sou fiel até à marca de shampoo que me pede garantias de que cobri todos os fios!

É no final que a coisa emperra. Eu juro, aceito, cedo e compreendo, mas não me peça pra ser “todos os dias de nossas vidas” e nem “até que a morte nos separe”. Como é que eu vou pedir pra alguém me jurar que vai me amar pelo resto da vida dele? Eu não posso, me desculpem.

“Todos os dias de nossas vidas”? Todinhos? Até que a morte nos separe?  Eu vou te amar até que a gente não seja mais feliz nem na doença nem na saúde. Eu te juro ser fiel e te respeitar pra sempre.  Pra sempre até a gente não conseguir mais. Até que a gente perceba que é melhor ir cada um prum canto.

Eu quero que me jure que vai ficar comigo enquanto estiver feliz. Feliz por acordar do meu lado, por dormir do meu lado e feliz até ao me ouvir cantando alto no carro quando a gente viaja. Quando não estiver mais (e aí a lista de motivos é extensa, eu sei), peço pra ser a primeira a saber. E talvez eu fique puta da vida, perca o respeito e diga ainda mais palavrões do que me é de hábito. Talvez eu faça isso, talvez eu concorde e talvez até quem queira ir embora antes seja eu.

Pra sempre é muito tempo, a gente nem sabe quanto. Inclusive, se eu morrer, acho bom você me amar por mais um tempinho antes de jurar todas essas coisas pra outra. Espere o defunto esfriar, pelo menos. O que eu quero é que você me ame, me respeite, me jure, me coma, me ouça até você não querer mais. E quero também que você ria das minhas piadas, que me faça rir, mas não me corrija dizendo que não posso começar o período da oração com pronome. Eu juro que faço o mesmo. Até que o amor nos separe.


Meu cãozinho branco da montanha,

Não parece que foi ontem. Parece (e faz) quase uma eternidade que fomos buscar você, ainda sem nome e em formato de mini bola de pêlos, mas às vezes ainda te procuro para dar a pontinha do tomate quando estou cozinhando.

Pensei que você bateria o Mike (a samambaia) no quesito longevidade, principalmente porque nesses 16 anos você nos fez pensar que enterraria a humanidade: a vez que ficou presa embaixo da geladeira e ninguém te encontrava, o nascimento dos filhotes que quase te matou, uma lista de cânceres de fazer inveja ao José Alencar.

As pessoas do prédio perguntaram de você, Dr. Edward (aquele crápula) mandou um e-mail lindo, a família e os amigos nos consolaram e a Bebel teve que se conformar em brincar com a sua réplica de pelúcia, o Bianco (pouco original, eu sei). Eu passei a abraçar qualquer cachorro que vejo na rua e às vezes “empresto” a Oito para sentir menos a sua falta, só que não adianta muito.

Com a reforma, sua poltrona preferida foi embora e não temos mais as meias velhas espalhadas pela sala – o que é ótimo – mas a casa continua precisando de um cachorro. Acontece que sabemos que não vai haver outra Bianca.

Ao contrário do que diz o título do filme, nem todos os cães merecem o céu. Você, sim. Inclusive me pego cogitando a existência de um céu de cachorros e te imagino sentadinha na grama, comendo suas uvas sem caroço, mini cenouras, tomates e latas infindáveis de atum.

Em vez da paz mundial, além de ganhar na megasena, meu desejo é de que todas as crianças do mundo tenham um cachorro tão legal como você foi.

Um beijo na ponta do seu focinho úmido.


Vai passar

08set11

Tenho uma sugestão ao IBGE, Datafolha, Ibope ou Vox Populi. Em vez de pesquisarem quanto dorme, em média, a população de Santa Rita do Passaquatro ou quantos pãezinhos com manteiga ingerem semanalmente os trabalhadores da região da Berrini, deveriam nos dizer quanto tempo dura as tendências suicidas do portador de um coração partido. Partido, não. Moído feito a carne do molho à bolonhesa da sua avó.

“É difícil saber”, você responde. E eu treplico: o homem foi à Lua! Não deve ser difícil realizar estudos sobre isso. Cientistas pesquisam os benefícios da música clássica na produção de leite das vacas, a duração do orgasmo de um porco. Podem muito bem estudar cada detalhe de um término (ou pior, do não-começo) de um relacionamento e apresentar uma estimativa da duração dessa tristeza toda.

Todo mundo sabe que passa. Eu, você e até o pobre sofredor sabemos. Mas quando? Estamos falando de dias, meses ou de um quarto de século? Sabemos também que em situações como essa, o tempo vai passa com a velocidade média de uma lesma sonolenta – informação essa que também já foi verificada, com certeza. Mas ainda assim: em média, quanto tempo?

E quanto ao gênero? Homens saem da vala com mais facilidade? Quando ainda na vala, quanto uísque bebem? O consumo de chocolate entre as mulheres deve triplicar, estimo. Não podemos nos esquecer da classe social. Será que  clientes da Daslu passam meses na terapia à base de tarja preta depois do fora? E na periferia? Bastaria um bom porre de Contini ao som de Waldick Soriano? A propósito, ouvir “I Will Survive” na versão do Cake em loop aumenta as chances de recuperação em qual porcentagem?

Amores não consumados causam mais sofrimento? O namorinho de dois meses traz menos dor do que o casamento de 30 anos ou do que o iminente noivado? Sobre os graus de sanidade da vítima do coração estraçalhado: há os que criam muitas expectativas, os razoavelmente coerentes e os maníaco-depressivos, dentre muitos outros. Quem será  que supera mais rápido?

Como é que eu vou dizer pra alguém que “vai passar” se eu não sei precisar quando? Fico lá tentando consolar o amigo, maldizendo o autor do fora, bebendo e parafraseando o Léo Jaime – “a vida não presta, ela não gosta de mim” – e fica por isso mesmo? Deixo o diabo em prantos com um “vai passar” assim leviano?

É preciso de dados factíveis; até porque a descrença do rejeitado na própria recuperação consegue atingir altos patamares. Os certos do fim do mundo pelo menos deram uma pista: 2012. Será que meu amigo vai sair dessa antes de irmos todos pelos ares? Precisamos de complexas planilhas no Excel, análise combinatória, gráficos de linha, barra e de pizza, logaritmos…

Esse tipo de informação é valiosa e a pesquisa, demorada. Porém, enquanto o coração partido, pisoteado ou moído em ponta de faca tenta voltar à forma original – sair do coma; tudo o que a gente pode fazer é deixá-lo de lado e fazer a cabeça pensar nesses números todos. A verdade é que só passa quando a gente quiser que passe.


Guia prático

10ago11

Estimo (ou melhor, chuto) que 95% dos termos de busca que vêm parar neste blog dizem respeito a vômito, bebedeira e, principalmente, à cura dela. Culpa deste texto, baseado em fatos reais. Se tivesse alguma capacidade ou paciência, faria o cálculo correto, mas como não é o caso, seguimos o jogo assim mesmo.

Muito embora eu não acredite ter tamanha experiência no assunto, devo estar melhor do que os tantos que – no desespero, imagino – resolvem apelar para o Google em busca da cura do porre. Ou melhor, da ressaca. Da bebedeira propriamente dita, ninguém quer melhorar; por isso o final é tão trágico.

Em primeiro lugar, meu lado politicamente correto (?) me diz para alertar que auto-medicação é um hábito perigoso – consulte sempre seu médico de confiança (ou o do convênio, mesmo). Ainda: se você não quer ter ressaca, não beba demais. Na hora do desespero não vale jurar que nunca mais colocará uma gota de álcool na boca, dizer que passou mal porque não tinha jantado ou culpar a mistura de vodka, cerveja e uísque. Porém como não sou de defender nenhum tipo de abstinência, é só ter um pouco de bom-senso – coisa que a idade costuma trazer.

Para você que, já de pileque, arrependeu-se ou começou a pressentir o pior a caminho, as notícias não são animadoras. Beba água e vá para a cama, pois não há mais nada a fazer. Talvez o destino lhe seja bondoso. Talvez você faça uma visita ao turbo drop do Playcenter sem nem sair de casa. Agora, se você queimou a largada e passou mal antes de dançarem a valsa na formatura, faça uma travesseiro com o paletó de alguém e vá dormir na mesa até alguém te guinchar na hora de ir embora.

O problema é o dia seguinte, todo mundo sabe. Devo  dizer que apesar de todas as nítidas evidências  e sensações, a ressaca não vai te matar. Sei que houve casos extremos, bateristas de bandas famosas que morreram afogados no próprio vômito e mais um monte de desgraça, mas esse não deve ser o caso. Inclusive porque você conseguiu ligar um computador, não é mesmo?

Nas dicas do Jornal Hoje antes do Carnaval sempre mandam intercalar a cerveja com um copo d’água, mas estou para conhecer algum cidadão que cumpra à risca. Então, se lembrar, beba água antes de dormir e, óbvio, muita água quando acordar com a boca seca feito o deserto do Atacama. Pode substituir por coca-cola, Gatorade e até soro caseiro, se você lembrar da receita que o Didi Mocó ensinava na TV.

Um sintoma (pra não dizer castigo) bastante comum do exagero na bebida é a dor de cabeça e todo cidadão que se preze tem uma preferência para remédio. Neosaldina, Tylenol, Aspirina, Novalgina, Advil… fique à vontade. Só não confio no Doril porque apesar de nunca ter tomado, acho o slogan infame

O Dramin – também campeão nas buscas – é um santo remédio. Além de tratar do enjôo do pau d’água, dá um sono absurdo. Tome um pela manhã e quando acordar, o Faustão já estará anunciando as Video Cassetadas. Por razões óbvias, não é recomendado o uso caso você esteja no trabalho.

Plasil é uma outra opção, mais indicada nos casos de vômito extremo. Em situações mais brandas, se você não tiver medo da aparência radioativa do Epocler, um tubinho ajuda bastante. Além disso, uma boa dose (ai) de otimismo é importante.

Antes que a ressaca chegue, deixo algumas dicas: não fique abraçando as pessoas ao seu redor, não conte intimidades a desconhecidos na fila do banheiro, não mande SMS inapropriado no meio da madrugada, não perca a comanda do bar e, principalmente, não pegue o carro. E se, por algum milagre, o resultado do sms inoportuno for satisfatório, use camisinha. E seja feliz!




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